Dica cultural - Filme Nise O coração da loucura
06:04Andreia BrisolaOlá meus queridos leitores
Hoje a dica cultural é muito especial!
Um filme que nos mostra que a arte, o amor e uma forma mais humanizada de tratamento podem ajudar na terapia ou até mesmo cura.
O filme “Nise: O coração da loucura”, dirigido por Roberto
Berliner e estrelado por Glória Pires, em uma atuação emocionante, conta a história da psiquiatra
alagoana Nise da Silveira (1905-1999), que inovou o tratamento oferecido para
as pessoas com problemas mentais e, em especial, para aquelas com
esquizofrenia. Ela propôs e aplicou formas alternativas de cuidados, com base
na arte, no afeto e no convívio com animais em substituição a métodos
agressivos e comparáveis à tortura.
Nascida em Alagoas, em 05 de fevereiro de 1905, Nise da
Silveira foi uma das mais importantes psiquiatras no Brasil. Formou-se em 1926
na faculdade de Medicina da Bahia, onde era a única mulher em uma turma de 157
alunos.
No filme, a história de Nise e de seus pacientes, começa a
ser contada no ano de 1944 quando ela retorna ao trabalho no Centro
Psiquiátrico Nacional Dom Pedro II, localizado no bairro Engenho de Dentro, na
cidade do Rio de Janeiro (Nise era servidora pública na época em que foi
presa). A instituição já foi considerada
um dos maiores hospícios do Brasil e é onde atualmente funciona o Instituto
Nise da Silveira. Em 1934 (estado novo)
Nise foi acusada de envolvimento com o comunismo e ficou presa por 15 meses no
presídio Frei Caneca, depois viveu na clandestinidade por oito anos.
Depois deste período afastada da medicina, ela retornou ao
serviço público. Ao chegar em seu novo local de trabalho, o Centro Psiquiátrico
Dom Pedro II, Nise se recusou a adotar o “tratamento” até então dispensado aos
pacientes portadores de sofrimento mental, que se baseava em métodos
violentos, como agressões físicas, eletrochoque ou lobotomia. Em razão da
recusa, a médica foi designada a ficar responsável pelo setor de Terapia
Ocupacional do Hospital, até então considerado um setor de menor relevância e
que na prática não funcionava.
Porém, isso não a impediu de organizar o lugar e convidar os
pacientes, ou melhor, seus “clientes”, para ocuparem o novo espaço.
Inicialmente receosos, eles chegaram aos poucos e começaram a perceber a
diferença em relação ao restante da instituição. Ali encontraram tinta, papel,
lápis, telas, respeito, ternura e liberdade para se expressarem. Nise, influenciada pelos ensinamentos do
psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, defendia a tese de que os esquizofrênicos
faziam uso da linguagem simbólica, por meio da arte, para se expressarem.
A luta de Nise da Silveira, que se iniciou na época da
faculdade e se fortaleceu na década de 40 e nos anos posteriores, ganhou corpo
em 1987, ano em que nasceu o Movimento da Luta Antimanicomial, durante o
Encontro Nacional de Trabalhadores da Saúde Mental, na cidade de Baurú (SP). O
objetivo deste movimento foi a desoshospitalização dos pacientes com sofrimento
mental. O movimento denunciava os abusos e violação de direitos humanos
sofridos pelos usuários da saúde mental dentro dos manicômios, essas pessoas
muitas vezes passavam por métodos violentos de “tratamento”, como agressões
físicas, eletrochoque ou lobotomia.
Uma das conquistas do movimento foi a criação da Lei
10.216/2001, que determinou o fechamento progressivo dos hospitais
psiquiátricos e a instalação de serviços substitutivos. Desde então, o Brasil
tem fechado leitos psiquiátricos no Sistema Único de Saúde (SUS) e abriu
serviços substitutivos: como os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial), as
Residências Terapêuticas, Programas de Redução de Danos, Centros de
Convivências, as Oficinas de Geração de Renda, dentre outros.
Vale muito a pena conhecer a história de Nise da Silveira,
de seus “clientes” e da luta antimanicomial e se deixar emocionar por esse
filme tão tocante.
créditos by vander veroni blogsaúdemg - por vivian campos
“Não se cura além da conta. Gente curada demais é gente
chata. Todo mundo tem um pouco de loucura. Vou lhes fazer um pedido: vivam a
imaginação, pois ela é a nossa realidade mais profunda. Felizmente, eu nunca
convivi com pessoas muito ajuizadas”.
(Nise da Silveira)
Super beijo
Andreia Brisola
0 comentários